Artigo de Percival Puggina - Transcrito
da Tribuna da Internet
Morreu em Miami, aos 95 anos,
Huber Matos Benítez, revolucionário cubano de 1959. Ele foi o primeiro a passar
pelo infindável martírio que a adesão de Fidel ao marxismo-leninismo, posterior
à sua malfadada revolução, impõe ao povo de Cuba. Presto minha homenagem a esse
valente cidadão, verdadeiro herói, com todos os méritos e dores inerentes a tão
qualificador substantivo. Em reverência a ele transcrevo um trecho do meu livro
“Cuba, a Tragédia da Utopia”.
***
São vários os casos emblemáticos
na caminhada de Fidel sobre cadáveres rumo ao poder absoluto, sempre secundado
pelo mano Raul. Um deles é o do comandante Hubert Matos. Na hierarquia
revolucionária não havia coronéis nem generais. O posto máximo era o de
comandante. Huber Matos entrou em Sierra Maestra e em combates que se seguiram,
após intermediar uma operação considerada decisiva para a vitória de Fidel: o
fornecimento de armas e munições, em meados de 1958, para a arremetida final
contra o exército de Batista. Ganhando o posto de comandante e contando com a
confiança de Fidel, passou a divergir dele quando percebeu o alinhamento
comunista de seu líder. Ele relata sua amarga experiência no livro “Como llegó
la noche”.
Ainda em janeiro de 1959, Fidel o
declarou como o terceiro homem da revolução. Na ocasião, os principais
comandantes eram Fidel, seu irmão Raul, Che Guevara, Camilo Cienfuegos e Huber
Matos. O próprio Matos se declarou surpreso com a designação que recebeu:
“Primero estoy yo, luego Raúl y después estás tú”. Com efeito, Fidel não tinha
muita confiança no equilíbrio de Che, Raul tinha ciúmes de Che e ambos
desdenhavam Camilo, a quem consideravam um tipo boêmio com pouca rigidez de
espírito (embora tivesse grande apelo popular, o que desagradava profundamente
o Líder Máximo).
Matos relata que certa feita,
ainda nos primeiros meses de 1959, após visitar uma obra no porto de Havana
onde Fidel falou aos operários, retornando os dois pelo Malecón, perguntou ao
chefe sobre seus planos para concretizar a promessa de participação dos
operários nos resultados das empresas. E Fidel lhe respondeu: “No Huber, eso no lo podemos hacer, porque si
propiciamos que los trabajadores tengan independencia económica, de ahí a la
independencia política no hay más que un paso. No podemos!”.
Diante do que estava percebendo,
Matos enviou a Fidel uma carta pessoal, apontando divergências e afirmando que
não tinha qualquer intenção de criar problemas para a revolução. Na carta,
pedia seu afastamento, em caráter irrevogável do posto de comando que detinha
em Camaguey. Foi o que bastou para ser levado a julgamento por alta traição em
outubro de 1959.
Fidel compareceu pessoalmente ao
julgamento para acusar seu antigo companheiro, tomando como base de acusação o
fato de que a notícia da renúncia de Matos circulava abertamente na província
que ele dirigia e suscitava reações de antagonismo à revolução entre os
soldados. A leitura da ata da sessão é uma evidência dos critérios partilhados
pelos tribunais revolucionários. Matos é acusado de voltar atrás de seu
juramento de lealdade, de atingir com sua renúncia o vigor da revolução, de
tentar destruir com seu gesto o patrimônio simbólico e espiritual da revolução. Resumo da missa:
condenado a 20 anos de prisão”.
***
Huber Matos cumpriu integralmente
essa sentença, do primeiro ao último dia, por ordem do canalha que há mais de
meio século infelicita a nação cubana e recolhe tanto apreço do aparelho
político-partidário que governa nosso país.
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