Postado em 27 de setembro de 2015 na Tribuna
da Internet
Por Pedro do Coutto
Enquanto a presidente Dilma Rousseff não conseguia consenso
no PMDB na escolha de nomes do partido para integrar o governo (reportagem de
Júnia Gama, Simone Iglésias Washington
Luiz, em O Globo), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso numa entrevista a
Ricardo Balthazar, Folha de São Paulo, comparou-a ao Doutor Fausto, personagem
central da Peça de Christopher Marlowe, encenada por volta de 1590, e baseada
em contos esparsos alemães sobre mistérios de ciências ocultas. Wolfgang Goethe
viria a reescrever a história em 1794. Doutor Fausto, na obra original, vendeu
sua alma ao diabo em troca de uma juventude eterna. As duas partes descumprem o
pacto.
Fernando Henrique recorreu à literatura e à arte (Fausto
virou também uma ópera) para dizer a Ricardo Balthazar que Dilma tentava um
compromisso com o demônio para salvar seu governo. Mefistófeles, no caso, seria
o PMDB. Por isso, ele sustentou não acreditar no resultado positivo da
negociação, pois o problema, disse com razão, não se encontra somente na esfera
partidária, mas sim com uma atuação eficiente do Poder Executivo com reflexo
direto na população. Oferecer posições ao PMDB, isoladamente, não resolve.
Tampouco o impeachment, em relação ao qual formulou sérias
reservas. “Os que desejam o impedimento não construíram até agora uma narrativa
convincente. Não só para o Congresso, mas – acrescentou – para o povo”.
CONTAS PÚBLICAS
Se não houver perspectiva de reorganização das contas
públicas, não tem solução. O problema é a angústia do tempo. FHC, em certo trecho
da entrevista, afirmou que o caminho seria Dilma Rousseff comprometer-se a
renunciar dentro de um ano. “Mas – frisou – seria uma utopia”, reconheceu.
Utopia. FHC tem razão. Colocou bem o tema de forma geral e,
se a entrevista à FSP fosse um dia depois, como prova de falta de orientação,
poderia citar a escolha inicial do deputado Manoel Júnior para o Ministério da
Saúde pelo líder da bancada do PMDB, Leonardo Picciani. Manoel Júnior há pouco
mais de um mês sugeriu que a presidente da República renunciasse. Como poderia,
assim, vir a ser indicado para o posto?
Erro triplo: de Leonardo Piciani, do próprio parlamentar que
se considerou apto, e, acima de tudo, da própria presidente Dilma que não
conseguiu informações prévias a respeito da sugestão e do sugerido. Onde estava
sua assessoria? Onde se encontrava sua equipe no Palácio do Planalto? São
perguntas obrigatórias sobretudo no meio da tempestade.
MORO NÃO CAI NA ARMADILHA
Em São Paulo, quinta-feira, em almoço com empresários
promovido pelo grupo Lide, o juiz Sérgio Moro evitou qualquer pronunciamento a
respeito da decisão do Supremo tribunal Federal que pode funcionar para
dividir, pelo menos uma parte das investigações da Operação Lava-Jato. Revelou
serenidade e firmeza que se refletem na certeza de que está correto em sua
atuação. O Globo publicou esta matéria também na edição de sexta-feira.
Assim agindo, deixou evidente que não está disposto a, pela
emoção, deixar-se cair numa armadilha. Não se irritou. Sua resposta ao STF foi
feita através de seu comentário sobre a lentidão da Justiça. Tal lentidão é um
fato, caminho para tornar inócuos muitos julgamentos e, com isso, absolver
culpados pelo passar do tempo.
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