Por Sergio de Vasconcellos - Rio de Janeiro
Reeditado em 30-9 de 2015
A disciplina política tem dois
aspectos: forma e conteúdo. Para entendê-la nada melhor que fazer um paralelo
entre a disciplina política e a disciplina militar.
A disciplina militar é impessoal,
submete o homem a uma ordem determinada, sem discussão. Enquadra-o. Tira sua
roupa, põe outra. Ensina a caminhar de outra maneira, ensinando-o a receber uma
ordem e executá-la com Inteligência porém friamente. Guia-se permanentemente
pelo superior desde que sai até o cumprimento do objetivo (missão, ordem,
tarefa). Se se deteve no caminho há de ser por ordem superior. Isto é, é
conduzido, no verdadeiro conceito, sem ser, em nenhum caso, condutor. Age por
ação de presença e sempre em conjunto.
A disciplina política por sua vez
é aquela que exige que cada homem aja individualmente, pois é uma disciplina
confiada a sua consciência e não à vontade de um que manda e que dirige os
outros.
O militar sai com sua tropa e chega
ao objetivo com esta, todos, em conjunto, obedecendo à voz de comando.
O político está livre nos seus
próprios pensamentos e em suas próprias reflexões. Ele tem um ponto de partida
comum e um objetivo a onde deve chegar. Elege o seu caminho. Marcha por distintos
caminhos desenvolvendo, de diversas maneiras, sua mais completa e livre
iniciativa. É totalmente livre no rumo
que escolheu. Marcha apenas com uma condição: não perturbar os que marcham com
ele e chegar simultaneamente ao objetivo que fixou por sua própria vontade no
exato momento em que é preciso chegar.
O que a disciplina política não permite é o engano, é o mau procedimento.
O que a disciplina política impõe é a sinceridade e a lealdade em todos os
procedimentos e por sobre todas as coisas. Na disciplina política não existe
nada de obrigatório que não esteja conforme a consciência ou que não seja
ditado por esta. Em consequência i militante que realiza um mau ato não somente
corrompe a disciplina da organização de que faz parte mas também desgasta sua imagem, sua
credibilidade pessoal, além de vulnerabilizar e comprometer a ação e a
performance do conjunto. O mau procedimento, em síntese, inviabiliza o
militante para a condição de dirigente (político) da organização.
Companheiros: quem realiza
transações ou manobras em benefício próprio não pode impor nem exigir
disciplina de quem deve obedecê-lo. Por esta razão a disciplina política é uma
disciplina eminentemente de fundo interior. O dirigente político é
substantivamente íntegro e livre. Por esta mesma razão, não há quem possa fazer
o dirigente político. Ele nasce de sua própria bagagem interior. Ou seja, os
quadros dirigentes não são feitos, nascem potencialmente para tanto. Engana-se
aquele que acredita que se pode fazer um
dirigente político por decreto, resolução ou eleição. Isto é simples de
explicar: conduzir é uma arte, o artista nasce
não se faz. Assim como o artista o dirigente político precisa apenas se
desenvolver e aprimorar sua potencialidade e talento em grau máximo, a não ser
que procure ocupar na história um espaço
comum de mediocridade.
Uma disciplina desta natureza,
como muitas outras coisas essencialmente importantes, está em todas as bocas e
em muitos poucos corações. Mande com dignidade, mande com sinceridade, mande
com desinteresse pessoal, com lealdade, mande com honradez e será obedecido.
Publicado originalmente no
Mensário “AÇÃO NACIONAL” – São
Paulo: Junho de 1986, p. 9.
* O Centro de Estudos Gustavo
Barroso é dirigido pelo renomado Jornalista Rômulo Augusto Romero Fontes, editor do combativo “Jornal Bastidores”.
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