sexta-feira, 2 de outubro de 2015

DISCIPLINA POLÍTICA MILITANTE


Por  Sergio de Vasconcellos  - Rio de Janeiro
Reeditado  em 30-9 de 2015
A disciplina política tem dois aspectos: forma e conteúdo. Para entendê-la nada melhor que fazer um paralelo entre a disciplina política e a disciplina militar.
A disciplina militar é impessoal, submete o homem a uma ordem determinada, sem discussão. Enquadra-o. Tira sua roupa, põe outra. Ensina a caminhar de outra maneira, ensinando-o a receber uma ordem e executá-la com Inteligência porém friamente. Guia-se permanentemente pelo superior desde que sai até o cumprimento do objetivo (missão, ordem, tarefa). Se se deteve no caminho há de ser por ordem superior. Isto é, é conduzido, no verdadeiro conceito, sem ser, em nenhum caso, condutor. Age por ação de presença e sempre em conjunto.
A disciplina política por sua vez é aquela que exige que cada homem aja individualmente, pois é uma disciplina confiada a sua consciência e não à vontade de um que manda e que dirige os outros.
O militar sai com sua tropa e chega ao objetivo com esta, todos, em conjunto, obedecendo à voz de comando.
O político está livre nos seus próprios pensamentos e em suas próprias reflexões. Ele tem um ponto de partida comum e um objetivo a onde deve chegar. Elege o seu caminho. Marcha por distintos caminhos desenvolvendo, de diversas maneiras, sua mais completa e livre iniciativa.  É totalmente livre no rumo que escolheu. Marcha apenas com uma condição: não perturbar os que marcham com ele e chegar simultaneamente ao objetivo que fixou por sua própria vontade no exato momento em que é preciso chegar.
O que a disciplina política  não permite é o engano, é o mau procedimento. O que a disciplina política impõe é a sinceridade e a lealdade em todos os procedimentos e por sobre todas as coisas. Na disciplina política não existe nada de obrigatório que não esteja conforme a consciência ou que não seja ditado por esta. Em consequência i militante que realiza um mau ato não somente corrompe a disciplina da organização de que faz parte  mas também desgasta sua imagem, sua credibilidade pessoal, além de vulnerabilizar e comprometer a ação e a performance do conjunto. O mau procedimento, em síntese, inviabiliza o militante para a condição de dirigente (político) da organização.
Companheiros: quem realiza transações ou manobras em benefício próprio não pode impor nem exigir disciplina de quem deve obedecê-lo. Por esta razão a disciplina política é uma disciplina eminentemente de fundo interior. O dirigente político é substantivamente íntegro e livre. Por esta mesma razão, não há quem possa fazer o dirigente político. Ele nasce de sua própria bagagem interior. Ou seja, os quadros dirigentes não são feitos, nascem potencialmente para tanto. Engana-se aquele que acredita  que se pode fazer um dirigente político por decreto, resolução ou eleição. Isto é simples de explicar: conduzir é uma arte, o artista nasce  não se faz. Assim como o artista o dirigente político precisa apenas se desenvolver e aprimorar sua potencialidade e talento em grau máximo, a não ser que procure ocupar na história  um espaço comum de mediocridade.
Uma disciplina desta natureza, como muitas outras coisas essencialmente importantes, está em todas as bocas e em muitos poucos corações. Mande com dignidade, mande com sinceridade, mande com desinteresse pessoal, com lealdade, mande com honradez e será obedecido.
Publicado originalmente no Mensário “AÇÃO NACIONAL” – São Paulo: Junho de  1986, p. 9.

* O Centro de Estudos Gustavo Barroso é dirigido pelo renomado Jornalista Rômulo Augusto Romero Fontes,  editor do combativo “Jornal Bastidores”.

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