Postado na Tribuna da Internet – em 14 de julho de 2015
Carlos Newton
Está chegando ao final um dos
maiores mistérios da República. Os autos do Mandado de Segurança 20895,
impetrado pelo repórter Thiago Herdy e por O Globo já estão conclusos desde 27
de março, na mesa do ministro Napoleão Nunes Maia Filho, do Superior Tribunal
de Justiça, para que mande cumprir o acórdão da 1ª Seção da corte, que
autorizou o acesso aos dados do cartão corporativo do governo federal usado
pela ex-chefe da representação da Presidência da República em São Paulo,
Rosemary Nóvoa de Noronha.
O tribunal acolheu pedido feito
pela rede de jornais Infoglobo e pelo jornalista Thiago Herdy Lana para terem
acesso aos gastos, com as discriminações de tipo, data, valor das transações e
CNPJ/razão social.
TÓRRIDA PAIXÃO
Como se sabe, desde a década de
1990, quando se conheceram no Sindicato dos Bancários de São Paulo, numa
reunião conduzida pelo dirigente sindical João Vaccari Neto, Rosemary era
concubina do então líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva.
Em 2003, ao assumir o poder, Lula
trouxe a companheira para perto de si, nomeando-a para o importante cargo de
chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo. E o romance
prosseguiu, com o presidente usufruindo da companhia de Rose em 32 viagens
internacionais que tiveram a ausência da primeira-dama.
Tudo continua bem, até que novembro de 2012, já no governo
Dilma Rousseff, Rose acabou envolvida na Operação Porto Seguro, da Polícia
Federal, que investigou venda de pareceres técnicos para liberação de obras
favorecendo empresas privadas, foi imediatamente demitida e está respondendo a
processo.
DILMA USOU ROSE
Desde 2013, já rolava na Justiça o mandado de segurança
apresentado pelo repórter Thiago Herdy e pelo O Globo para quebrar o sigilo dos
gastos do cartão de Rose, sob argumento de que o acesso a documentos
administrativos tem status de direito fundamental, consagrado na Constituição
Federal e em legislação infraconstitucional.
Em 2014, quando cresceu no PT o movimento “Volta, Lula”,
para que o ex-presidente Lula fosse candidato, Dilma Rousseff resistiu e não
quis abrir mão da candidatura. Lula insistiu e ela então lançou sobre a mesa a
cartada decisiva, ameaçando divulgar os absurdos gastos de Rose no cartão
corporativo da Presidência, que se tornariam um escândalo capaz de destruir a
campanha eleitoral do PT, Lula foi obrigado a recuar.
DIREITO LÍQUIDO E CERTO
Para o relator do caso no STJ,
ministro Napoleão Nunes Maia Filho, a recusa de fornecer os documentos e as
informações a respeito dos gastos efetuados com o cartão corporativo, com o
detalhamento solicitado, constitui violação ilegal do direito líquido e certo
da empresa e do jornalista de terem acesso à informação de interesse coletivo,
assegurado pela Constituição e regulamentado pela Lei 12.527/11 (Lei de Acesso
à Informação).
“Inexiste justificativa para
manter em sigilo as informações solicitadas, pois não se evidencia que a
publicidade de tais questões atente contra a segurança do presidente e
vice-presidente da República ou de suas famílias, e nem isso ficou evidenciado
nas informações da Secretaria de Comunicação”, afirmou em seu parecer.
“A divulgação dessas informações
seguramente contribui para evitar episódios lesivos e prejudicantes; também
nessa matéria tem aplicação a parêmia consagrada pela secular sabedoria do
povo, segundo a qual é melhor prevenir do que remediar”, concluiu o ministro, que
vai mandar cumprir a sentença do STJ.
O PT VAI ÀS COMPRAS
Segundo o jornalista Cláudio
Humberto, do site Diário do Poder, nos governos petistas de Lula e Dilma, de
2003 a 2015, os gastos com cartões corporativos já somaram R$ 615 milhões, o
que significa mais de R$ 51 milhões por ano, enquanto em 2002, último ano do
governo FHC, a conta dos cartões foi de R$ 3 milhões.
Cerca de 95% dessas despesas são
“secretas”, por decisão do então presidente Lula, que alegou “segurança do
Estado”, após o escândalo de ministros usando essa forma de pagamento em gastos
extravagantes, como pagar tapiocas, resorts de luxo, jantares, cabelereira,
aluguel de carro, etc.
Humberto diz que a anarquia
chegou ao ponto de um alto funcionário do Ministério das Comunicações quitar
duas mesas de sinuca usando o cartão, enquanto em São Bernardo, seguranças da
família do então presidente Lula pagavam equipamentos de musculação com cartão
corporativo e compraram R$ 55 mil em material de construção para a filha dele,
Lurian.
Quando o sigilo for quebrado, esta nação vai estremecer.
Será divertido, podem esperar.C. Newton
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