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Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net
A Presidenta Dilma Rousseff passou ontem o “recibo” de quanto o
julgamento do Mensalão afetou o PT, obrigando seus marketeiros a adotarem uma
tática defensiva no discurso dominical de fim de ano. Dilma foi obrigada a
driblar o tema, abusando de uma mentira sobre a fragilidade que mais incomoda a
petralhada: “Não abrimos mão, em nenhum momento, de apoiar o combate à
corrupção em todos os níveis. Exatamente por isso, nunca no Brasil se
investigou e se puniu tanto o malfeito”.
Em tom propagandístico e ufanista na cadeia de rádio e televisão, o
discurso da Dilma só pode ter sido inspirado no clássico filme “Horizonte
Perdido” (EUA, Columbia Pictures, 1973, 150min – um remake de um filme de Frank
Capra, em 1937). Em busca de ajuda, os sobreviventes da queda de avião no
Himalaia, após uma violenta tempestade, encontram um estranho e maravilhoso
mundo chamado Shangri-lá, onde existe a eterna juventude e a felicidade plena.
Só isso explica que os redatores marketeiros tenham feito Dilma ler no
discurso de pré-campanha reeleitoral: “Nos últimos anos somos um dos raros
países do mundo em que o nível de vida da população não recuou ou se espatifou
em meio a alguma grave crise. Chegamos até aqui melhorando de vida, pouco a
pouco, mas sempre de maneira firme e segura. Construindo a base para que a expressão
melhorar de vida deixe de ser, em um futuro próximo, um sonho parcialmente
realizado, torne-se a realidade plena e inegável da vida de cada brasileiro e
de cada brasileira”.
Só faltaram, como fundo do discurso da Dilma, as canções de Burt
Bacharach e Hal David que tanto sucesso fizeram no filme dirigido por Charles
Jarrot. O Brasil, petralha e capimunista, é um perfeito “Lost Horizon”. O apelo
ao eleitorado jovem foi patético: “Você, jovem, sabe o quanto o seu padrão de
vida melhorou comparado ao que você tinha na infância e ao que seus pais tinham
na sua idade. Usem essa fotografia do presente e do passado recente como pano
de fundo para projetar o futuro. Esta é a melhor bússola para navegar neste
novo Brasil”.
Dilma também tentou vender, antecipadamente, um antídoto contra os
ataques que sofrerá, principalmente do PSDB, sobre as falhas no modelo
econômico: “Se alguns setores, seja porque motivo for, instilarem desconfiança,
especialmente desconfiança injustificada, isso é muito ruim. A guerra psicológica
pode inibir investimentos e retardar iniciativas”. Mas Dilma exagerou na dose
de criar ilusões sobre a eficácia e eficiência de sua equipe econômica no
combate à crise (que o governo não admite existir): “Nisso o governo teve uma
ação firme, atuou nos gastos e garantiu o equilíbrio fiscal, atuou na redução
de impostos e na diminuição da conta de luz. Nesses últimos casos enfrentando
duras críticas daqueles que não se preocupam com o bolso da população
brasileira”.
Quem tiver estômago para ouvir besteira, pode rever os 11 minutos e 49
segundos do discurso de Dilma – uma aula de como não se deve fazer propaganda
política.
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